26 de mar. de 2022

Sylvaine - Nova (2022)

 

Uma das coisas mais fascinantes sobre o Heavy Metal é a capacidade dele de evoluir e se transmutar em diversos estilos sempre apresentando algo novo ao ouvinte. Essa característica também apresenta desafios a aqueles que tentam dissertar sobre os novos lançamentos, pois muitas vezes nos vemos diante de uma sonoridade quase impossível de descrever.

Sylvaine é uma dessa bandas cujo som é quase sui generis. Sylvaine é a banda formada pela multi-instrumentista, Kathrine Shepard, figura conhecida da cena black gaze tendo trabalhado com Neige no Alcest, porém seu trabalho que já havia desembocado no excelente "Atoms Aligned, Coming Undone (2018)" sempre teve algo a mais para além das convenções típicas do Black Gaze de bandas como Alcest e Deafheaven.

Nova (2022) é o quarto disco da banda norueguesa e um excelente display da evolução sonora da Sylvaine que sempre privilegiou a construção de melodias que remetesse as paisagens frias nórdicas, ao celeste e ao caos, um som com forte apelo emocional onde o desolamento e a esperança estão em constante conflito.

Ao passo que as bandas tradicionais de Blackgaze soam muito moderninhas, alguns diriam hipster, o som que a Sylvaine dsenvolve em "Nova" remete em diversos momentos as vertentes mais tradicionais do metal como o Folk Metal e o Symphonic Metal, com instrumentação regional e vocais dóceis e angelicais que contrastam com riffs de black-doom e vocais guturais complemente cortantes.

Ao longo do álbum você pode ouvir constantemente o contraste entre essa aura etérea e contemplativa com o caos obscuro que toma conta das canções, exemplos são "I Close My Eyes so I Can See" e "Mono No Aware", essa última que ultrapassa os 10 minutos de duração e cujo clipe que sequencia a explosão de vulcão e uma maré gelada batendo na costa fazem um complemento visual perfeito a sonoridade produzida pela banda.

É preciso elogiar muito a habilidade vocal da Kathrine em inserir linhas vocais melodiosas que remetem ao metal melódico nórdico como na faixa-título, "Nova" e contrastar isso com vocais extremamente agressivos e violentos que trazem tensão as diversas músicas desse registro.

Uma grande virtude do álbum é sempre presentear o ouvinte com a combinação e dissonância dos mais diversos estilos do metal fundidos para criar essa atmosfera de conflito em que a melodia é o fio condutor entre os momentos de maior peso e velocidade e os mais cadenciados e delicados.

Caracterizar o som que a Sylvaine faz nesse álbum é uma tarefa árdua, me arrisco a dizer que é um blackgaze com influências de metal melódico (folk metal e symphonic metal), mas que também puxa para o doom metal, funeral doom, e black metal melódico, com um pitada de pop de câmara e atmospheric music.

Para aqueles que apreciam músicas bem construídas e com riqueza melódica e emocional que acomoda sensações dissonantes como paz e caos, esse é o jackpot, é desafiante descrever um álbum que a todos os momentos parece transcender os gêneros tradicionais, ainda que os homenageie brilhantemente, mas ao mesmo tempo é fascinante acompanhar tal sonoridade.

"Nova" (2022) é até o momento o magnum opus da banda e recomendo efusivamente a audição, é um daqueles álbuns que desafiam todas as concepções conservadoras do que deve ser um álbum de heavy metal.

 Nota: 9,5 *********1/2